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domingo, 9 de março de 2008

OS DESAFIOS DA DIGNIDADE HUMANA


Muitas vezes me pergunto os porquês de escrever sobre a dignidade humana. Algumas pessoas podem achar que é loucura... Alguns até, numa corrente americanizada dizem que a Dignidade é um conceito inútil. Ora, eu vivo num país, de origem latina, que preza muito as questões do sentir, do tocar, do olhar o outro. E também pela minha própria constituição humana que me faz sentir um grande inconformismo com as questões sociais tão gritantes em nosso país.


Por que Dignidade? O ser humano possui dignidade inerente em qualquer situação? O que é dignidade? De onde ela vem? E qual seu fundamento através do tempo? Animais possuem dignidade? Por que Kant fez a dicotomia: pessoa possui dignidade e coisa possui valor? Algumas outras perguntas de fundo mais teórico também permeiam as razões da minha investigação. Ética e dignidade são aliadas? Dignidade está implícita nas regras morais? Dignidade é um conceito inútil?

O fim da Segunda Guerra mundial trouxe grandes mudanças sociais. Ao se defrontar com o uso destruidor da potencialidade científica e tecnológica evidenciado pela guerra, acrescido de enormes arbitrariedades, surge uma busca crescente de parâmetros éticos. Desde o Código de Nuremberg em 1947 e ao advento da Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, busca-se reconhecer o valor da vida, a importância ao respeito pelo ser humano em sua integridade e conseqüentemente assegurando sua dignidade no viver.


Paralelamente os avanços científico-tecnológicos tomaram proporções gigantescas neste último século. A descoberta de vacinas, de medicamentos, de formas de tratamento, trouxe o fim de inúmeras doenças e grande parte de outras já não se tornam mais assustadoras e letais quanto antes. Enquanto isso a industrialização crescia, a economia mundial se desenvolvia na sombra do ideal capitalista, proporcionando uma verdadeira explosão no que tange a tecnologia: computadores, celulares, fibra ótica e uma infinidade de outros materiais e equipamentos que se tornaram úteis pra vida humana.


Já em 1948 foi promulgada a Declaração Universal dos Direitos do Homem, importante passo para a mudança no modo de agir e refletir humanos. O maior legado deixado pela Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948 é a prerrogativa de que todos os seres humanos em suas diferenças biológicas, históricas, religiosas e culturais, são merecedores de respeito, individualizando-os, como únicos. É o reconhecimento de que ninguém, independente de raça, gênero, etnia, classe social, nação, ou vertente religiosa pode se considerar superior aos demais.


A dignidade humana, aquisição de um valor fundamental, sem preço não é um conceito único. Pressupõe-se que a dignidade seja inerente a todas as pessoas e por essa razão, busca-se adequar o termo para se compreender qual o papel da dignidade no discurso da vida. A busca de um conceito está longe de ser concluída, mas certeza existente é que só se reconhece a dignidade em si mesmo e se percebe a utilidade deste conceito quando reconhecemos no outro o valor fundamental e inestimável do ser digno.


No próximo Episódio Cultural falarei sobre a Eutanásia.

* Renata Santinelli é mestre em Bioética e professora do curso de Serviço Social do CESEP.
renatasanti@yahoo.com.br

EUTANÁSIA, DE QUE MORTE ESTAMOS FALANDO?


Eutanásia: de que morte falamos?


De: Renata Santinelli

A partir de perguntas de difícil resposta começo a reflexão. O que é morte? O que é morrer? Por que atualmente sentimos verdadeiro pavor ao falar em morte. Para responder estas questões lembre-se aqui que até meados da década de 60 a morte era um acontecimento social. A pessoa passava seus últimos minutos ao lado de familiares e amigos, repleta de carinho e de cuidados. “Venha tomar benção do se avô que está indo para o céu, menino” – Diziam as pessoas.
Crianças participavam, era natural. Após a década de 60 surgiu o conceito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Não que as UTIs não somam grande avanço na medicina. Somam sim. Mas, com o surgimento das mesmas a morte passou a ser impessoal. Crianças devem ficar longe, a pessoa faz a passagem cercada de tubos e máquinas e aqueles provedores de todo carinho pelo enfermo passam a olhá-lo apenas e pelo vidro.
Essa mudança no conceito de morte trouxe algumas novas reflexões dentre elas a Eutanásia.


O que é Eutanásia?
Atualmente Eutanásia é a ajuda oferecida ao moribundo por parte do médico consciencioso e atento aos sofrimentos e angústias do enfermo. Existem várias formas de eutanásia, mas nossa reflexão não será técnica e sim, humana.


Deixo pra você meu caro leitor para discutir em casa, com a família, com seus amigos e seus colegas de trabalho. Será que do mesmo modo que somos ajudados a nascer, devemos ser ajudados a morrer? Será que nosso ordenamento jurídico não deveria se preparar para melhor compreender a vontade de pessoa enquanto ela pode expressar suas vontades e, por que não expressar que se estiver em sofrimento que seja ajudada a deixar a vida? Para finalizar deixo um trecho da obra “Morte e vida Severina” de João Cabral de Melo Netto para apimentar a discussão. De que morte falamos?

“E somos Severinos; iguais em tudo na vida; morremos de morte igual, da mesma morte. Severina. Que é a morte que se morre; de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte; de fome um pouco por dia. De fraqueza e de doença é que a morte Severina, ataca a qualquer idade, e até gente não nascida.” (João Cabral de Melo Netto)


No próximo Episódio Cultural falarei sobre BIOÉTICA E SUAS ORIGENS.


*Renata Santinelli é mestre em Bioética. Professora da Faculdade de Serviço Social do CESEP/ renatasanti@yahoo.com.br
[1] Mestre em Bioética. Professora da Faculdade de Serviço Social do CESEP / renatasanti@yahoo.com.br
A palavra Eutanásia vem do grego: eu (boa) thanatos (morte), é morte boa, sem dores e angústias. No século XVII, Eutanásia passa a significar o ato de por fim à vida de uma pessoa enferma.Em seu conceito clássico Eutanásia é tirar a vida do ser humano por considerações “humanitárias”. Bom esse conceito abre a uma enorme reflexão e por isso não mais utilizado.

VINÍCIUS NA PAULICÉIA

Em dezembro de l965, repórter de "A Gazeta", da Fundação Cásper Líbero, fui fazer uma matéria com o Poeta mais famoso da época, Vinicius de Moraes. A turma do Poetinha como era carinhosamente reconhecido iria dar um show no Teatro Municipal de S. Paulo, em benefício às instituições de caridade. O convite partiu de dona Zilda Natel, esposa do Prefeito de S. Paulo, Laudo Natel. Era por volta das 21 horas, quando o meu Chefe de Reportagem, Hélcio de Castro, recomendou-me a entrevista: -Já que você é literato, faça a entrevista com Vinicius de Moraes, que está ensaiando no Municipal! Entregue-a antes da meia-noite, no fechamento da edição!

E lá fui eu contente, pois era admirador incondicional do mestre Vinicius para a cobertura. Já o tinha conhecido antes no Rio, no famoso bar Antonio's, em Ipanema. Naquela época, andávamos duros, sem um tostão no bolso e o nosso grupinho de candidatos à Literatura ficávamos numa choperia em frente batendo papo em Inglês, pois ali freqüentava muitos turistas americanos e quando algum deles notava que nós falávamos a língua materna pagava alguns chopes para atravessarmos a noite carioca. E foi pelo vidro em frente, que notei a presença de Vinicius e fui depressa invadir sua privacidade e bater papo com o Poetinha.
Falei-lhe que estava mudando para S. Paulo e dei-lhe meu endereço. O xará, Marcus Vinicius, foi atencioso e semanas após, mandou-me um livro de presente "Para Viver um Grande Amor".

Dito e feito fui lá com o fotógrafo Rebello para a reportagem. Quando adentrei o Municipal estavam terminando o ensaio da primeira parte do espetáculo. Vinicius e toda a sua turma carioca: Tom Jobim, Baden Powell, Toquinho e outros elementos destacáveis no cenário musical nacional. Aproximei-me e já fui falando: Vim para uma entrevista.
Está disponível? O Poeta reconheceu-me e disse prontamente: -Foi bom que você veio? Já estava passando da hora de "bicar” um pouquinho.Levei para o bar da moda: Juan Sebastian Bar. Vinicius já foi pedindo seu uísque predileto. E o "capitão-do- mato, poeta, diplomata, o branco mais preto do Brasil já foi falando: -Precisava vir urgentemente a São Paulo para desfazer um equivoco. Atribuíram -me que tinha dito que "São. Paulo era o túmulo do samba". Nada disso, gosto da Paulicéia e algum jornal publicou a frase. A convite da Prefeitura vim mostrar o nosso amor a São. Paulo pela sua terra e sua gente...


Perguntei-lhe dos livros publicados e o Poeta retrucou: -Vamos falar de temas mais amenos: como o do Amor e evidentemente a Mulher. A propósito do livro "Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito: é preciso também ter muito peito - peito de remador.
É preciso olhar sempre a bem- amada como a sua primeira namorada e sua viúva também , amortalhada no seu finado amor."Continuou: “Uma mulher ao sol - eis todo o meu desejo/ Vinda do sal do mar, nua, os braços em cruz/ A flor dos lábios entreaberta para o beijo/ A pele a fulgurar todo o pólen da luz".
Sobre a solidão falou: "A maior solidão é a do ser que não ama, é a do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana. O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e de ferir-se, o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo."

E assim viramos a noite batendo papo e o poeta recitando parte de seus versos. Quando dei pela coisa, tínhamos esvaziado algumas garrafas de uísque e os raios de sol já apareciam no horizonte. Eram seis horas da manhã e os garçons de braços cruzados aguardavam a nossa saída. Dei conta de que não aparecera no jornal para entregar a reportagem, que quase me valeu o bilhete azul do Editor. Mas no fundo estava aliviado: tinha conversado com o Poeta Maior.

Fui visitá-lo antes, de sua morte no Rio de Janeiro, em julho de 1980. E carrego ainda comigo os seus versos daquele encontro, em que aprendi que a poesia é ave que nos transporta para o infinito e somente ela poderá salvar o mundo de amanhã. Vinicius de Moraes, antes de partir, deixou-nos esta mensagem: "Meus amigos, se durante o meu recesso virem por acaso passar a minha amada/ Peçam silêncio geral. Depois/ Apontem para o infinito. Ela deve ir/ Como uma sonâmbula, envolta numa aura/ De tristeza, pois seus olhos/ Só verão a minha ausência”.


*Marco Antônio Soares de Oliveira é jornalista e escritor