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segunda-feira, 5 de abril de 2010

O ESCORT PRATEADO (Cláudio Roberto Fernandes & Eliana)



...Não pegava nem com reza brava. A chave estava prestes a quebrar, quase dando um giro de 360°, mas o motor não funcionava!

Já estava ficando irritado com o belíssimo Escort Prata 83, quase semi-novo, que pedi emprestado e consegui depois de muita insistência e uma nota de 50 reais, ao meu colega Vigilante. O caso é que como estava aprendendo a dirigir e ainda não possuía nem uma bicicleta velha, queria impressionar minha bela esposa, com os meus talentos automobilísticos.

Bem, mas depois de muitas aulas técnicas do meu amigo vigilante, me ensinado alguns “macetes” do carro, como, desligar o carro e virar a chave para economizar gasolina, consegui fazê-lo andar um quilometro em linha reta. Até que ao chegar numa curva, o danado resolveu não me obedecer, travando a direção e voltando ao mundo dos mortos, empacando bem ali, no meio da curva da estrada.

Virei às chaves, com a técnica ninja que aprendi com meu amigo, liguei o motor e fingi que nada aconteceu. Continuei em linha reta após a curva, mesmo sendo contramão, pois o coitado do Escort Prateado esquecera o que era marcha-a-ré.

Enfim cheguei à cidade feliz da vida, me sentindo o “tal”, naquele Escortão Prateado, afinal aquele carro não estava tão ruim assim: a lataria fora remendada usando-se apenas três carros (poderia ser pior, tipo o Frankstein, um pedacinho diferente em cada parte). O prata tinha cinco tonalidades diferentes (parecia carro estilizado, era muito chique!).

Atrás não tinha banco ( para caber mais bagagens ou lavagens que meu amigo costumava carregar pra alimentar seus porquinhos) e na frente os bancos saltavam as molas (parecia que estávamos andando á cavalo, ou pulando numa cama d’água). E além de tudo isso era um quase autêntico Ford, com a maciez que poucos carros novos têm.

A única coisa chata é que o antigo dono do Escort 83, um playboyzinho, tinha cortado as molas do carro, e ele já estava ficando quase sem assoalho de tanto se esfregar nos quebra molas da cidade.

Apesar de tudo isso, eu ainda tinha um sonho, assim como Martin Luther King tinha um sonho: queria impressionar minha esposa!

Por isso não desisti e segui em frente, cheguei em casa e convidei a minha amada para uma volta de carroça, digo, de carro.

Sendo ela uma verdadeira dama e companheira de aventuras, não me negou essa honra. Apenas manifestou com os olhos esbugalhados, certo temor de “afundar” no chão, quando de dentro do carro viu o asfalto debaixo de seus pés pelos furos do assoalho. Mas tudo bem. E assim fomos pela estrada afora, cantando uma musica do Legião, já que o rádio havia quebrado, o jeito era improvisar no ao vivo mesmo.

Íamos levar o veiculo até a guarita (de onde nunca deveria ter saído) até que no meio do caminho surgiu um quebra-molas, havia um quebra – molas no meio caminho... Tão sinistro quanto o Godzilla, e maior que o King Kong, e causou um ruído arrepiador embora o carro estivesse leve e eu passasse de lado.

Chegando de frente a um boteco, á umas duas esquinas a frente do quebra-molas-assassino, o carro “morreu”. Achei estranho, pois tinha abastecido meio tanque e embora aquele carro fosse gastador, tinha rodado muito pouco para ter acabado o álcool.

Fiquei tentando dar a partida, parado ali, bem no meio da rua, e quanto mais eu insistia, mais ouvia um “... nãnãnãnãnãnãnãnãnãnãooooooo...” do motor, além do cheiro forte de álcool, que pelo visto, não era do boteco, pois estávamos com os vidros fechados.

E de repente, apareceu um anjo da guarda, um pouco mais “alto” que de costume, e perguntou o que havia acontecido. Expliquei que quase havia sido abduzido pelo gigantesco quebra-molas e assim apareceu uma legião de “ anjos- manguaceiros” para ajudar. Foi um tal de: “vai”, “agora”, “põe uma segunda”, “pisa”, “agora solta”...

E o cheiro de álcool ficava mais e mais forte. Mas o carro não reagia aos trancos solidários e não funcionava.

Foi quando um dos meus ajudadores resolveu olhar debaixo do carro, por estar escuro ( na concepção dele, pois ainda estava claro) e acendeu um isqueiro.

Minha esposa levou um susto, pois o cheiro de álcool que vazava era quase insuportável e quis sair do carro, mas não deixei. Arrisquei tê-la “torrada”, mas dentro do carro, que ver os marmanjos olhando para a beleza dela. Vai entender o amor não mesmo?!

E o isqueiro clareou mesmo, o suficiente pelo menos para vermos a mangueirinha que mandava o álcool do tanque ao motor solta. Certamente por causa do Godzila quebra-molas, ou um de seus filhotes, que agarrava o assoalho a cada passada.

E para relaxar a tensão, o carinha do bar, ainda meio são, acendeu um cigarro e enfiou a cabeça debaixo do assoalho, com uma enorme dificuldade. E com o isqueiro aceso segurado por mim – que solução? – ele foi trocando cigarro de mão até conseguir a melhor posição e ligou as pontas da mangueira.

Pronto. Esperei meio segundo e liguei o carro, que dessa vez pegou.

Agradeci aos meus anjos da guarda do boteco, pela sua imensa prontidão em nos ajudar sem pedir nada em troca, e acima de tudo a Deus, pois pude constatar que Ele realmente existe.

* Cláudio Roberto Fernandes e Elaina são casados. São pais da pequena Maria Eduarda, uma talentosa poetisa.

Foto: http://images03.olx.com.br/ui/1/00/90/23370090_1.jpg