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terça-feira, 15 de maio de 2012

CARTAS PARA O CÉU


Carta para o Céu


Machado,17 de Abril de 2012

Caro Amigo,

Esta semana, dia 16 de Abril de 2012, houve uma festa no céu e Deus convidou um amigo nosso para ela. E ele, mesmo contrariando os desejos de sua família, de seus amigos, resolveu ir.
Penso que ele nem pestanejou quando se imaginou diante da possibilidade de ver de perto o nosso Criador. E foi para ficar.Disse que partiu feliz e a cada um de nós que ficou por aqui deixou somente boas lembranças
Antes de sua total partida do nosso meio houve uma despedida muito bonita,  muita gente se reuniu na paróquia São José para deixar sua mensagem de boa viagem.
Todos choraram muito. Também, ninguém tem idéia do que é ir para o céu. Nós imaginamos que lá é um paraíso, mas temos um pouco de medo do nosso momento.
As pessoas de sua família ficaram inconsoláveis, pois, quem é que gosta de se separar das pessoas que ama? Ninguém gosta e nem quer.
O José Vítor e os padres, amigos dele, disseram-lhe belas palavras, mostrando a todos como toda uma comunidade sofre com a perda de pessoas boas que fazem o bem e distribuem concórdia por onde passam. E ele era assim, sempre atencioso, carinhoso no tratamento com os amigos, solícito em tudo e, mais que isso, mostrou-se sempre um cristão com grande fé.
Então, amigo! Cada um que ficou aqui tem algo a lhe dizer. São tantas vozes emaranhadas em soluços que estou a pedir que façam fila. Não dá para dizer tudo de uma só vez. Você acabou de chegar aí e deve estar cansado. Ainda bem que não há malas para desfazer.
Ontem mesmo, depois que você se foi, fui aplicar prova na faculdade, onde você foi meu professor, lugar em que você sempre brilhou e onde fomos colegas de trabalho por muito tempo . Você ensinou-me Linguística, mas, muito mais do que Lingüística, você ensinou-me a ensinar  alegria, razão de ser do educador.  
Pois é, os professores da sua época que ainda estão lá, ficamos conversando e falando de você. Pensamos então, que devíamos, juntos, escrever algo para você, que falasse de você em nome de todos. Eu me comprometi de fazê-lo. Estou escrevendo uma carta, pois me sinto à vontade em trabalhar as palavras, uma vez que estou falando com um amigo, e, entre amigos, não é necessária tanta  preocupação com elas.
Sabe o que todos disseram para eu dizer?
Que você foi um grande homem, um grande amigo, um grande profissional e, mais que tudo, muito humano.
Que bobagem! Qualquer pessoa que o conheceu aqui já lhe deve ter dito isso. Ah!, mas é sempre bom saber que somos queridos, né?
O Guimarães Rosa tem razão; as pessoas não morrem, ficam encantadas. Você transformou-se nesse encantamento cuja lembrança nunca trará tristeza.
Nós falamos e falamos de você e tudo que resultou do que falamos foi o encanto de uma vida que veio para demorar um pouco mais de meio século, mas que deixou u´a marca tão profunda, tão significativa que bastou para Deus.
E Deus o convidou, então, para cuidar, em outro plano, das flores do caminho, das sementes lançadas, das palavras que ainda estavam por dizer.Você respondeu tão depressa ao chamado para a festa no céu que nem pensou em quantas pessoas ficariam aqui lamentando sua ausência. Mas você está certo: quem pode recusar a um chamado de Deus?
Você viu, Clêuton, que estou falando com você numa forma bem coloquial? É assim que fazem os amigos: abrem seu coração e deixam a luz do céu entrar. Não vá mostrar esta carta pra ninguém. Sei lá como vão reagir  aí os clássicos da palavra.
Antes que eu me esqueça deixo alguns nomes de colegas da faculdade que mandam um abraço apertado. Eles estão do meu lado: a Rita, a Norma, a Elissa, a Sônia, a Elza... olha, não vou escrever o nome de todos, senão a lista não acaba. A turma toda, que você conhece, deixa-lhe abraços saudosos.
Só mais algumas palavras: o José Vítor, o Vilela, o José Agenor estavam confabulando sobre o grupo do qual ainda faziam parte  você e o seu Maurílio. Lembra? Penso que é o grupo que fundou o jornal. Foram tantas conversas de uma só vez que não dá pra dizer.
Você viu quanta gente esteve na sua despedida? Encheu a Igreja.
Você ouviu as músicas cantadas pelo coral?
Pois é, Clêuton, só mesmo um grande homem como você receberia tantas pessoas, tantas flores e tantos soluços.
Espero que você leia esta carta debaixo de uma grande árvore com todas as vozes dos anjos entoando em coro: Chega de saudade!
Você é um grande amigo para ser guardado do lado esquerdo do peito, dentro do coração.
Olhe daí pelos seus irmãos e irmãs de sangue que não suportaram  ver você partir e vão demorar um pouco para aceitarem sua ausência. Não se esqueça de nós outros que somos irmãos de coração.
Chega, né, Clêuton, você deve estar cansado já. Fico no atalho porque  a estrada é longa. Descanse em paz.
Vislumbro em você o que li em Robert Frost : “ Ele teve um caso de amor com a vida”
Um grande abraço e saudade , em nome de todos.

Olga Caixeta
Mestre em Língua Portuguesa e membro da Academia Machadense de Letras