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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

PRECONCEITO, FALSIDADE E CINISMO: BOM APETITE!




PRECONCEITO, FALSIDADE E CINISMO: BOM  APETITE!

Carlos Roberto de Souza (Agamenon Troyan)

O texto “Profusões” de Olga Caixeta é muito interessante. Sua observação é um alerta sobre o cinismo, preconceito e falsidade dos quais nos alimentamos todos os dias. Testemunhamos crianças perdendo sua fase pueril em meio a jogos de violência e jovens dizimando sua juventude em “baratos” cheios de overdoses.
Na música, o vulgar é sucesso garantido, enquanto que as de letras bem estruturadas caem em desuso cultural.
Nas telas, a barbárie (guerras, genocídios, violência urbana e familiar, entre tantos) é diversão garantida regada a pipoca, guaraná e vodca. Os pais – que ainda tentam em vão dialogar com seus filhos ou controlá-los – se perdem nos umbrais do tempo. Tudo hoje em dia é “careta”, ou será que essa gíria se perdeu também?
Encaramos tudo em caráter de negligência; não percebemos o quanto estamos envolvidos... Somos parte de um imenso tabuleiro cujas peças não se movem. Deixamos escapar uma lágrima por uma cena que nos toca, e negamo-la quando a realidade bate à nossa porta.
Como é possível discutirmos – em ângulos cinematográficos – enredos realísticos que abordam a pobreza, guerras religiosas, conflitos familiares quando a realidade está a um palmo dos nossos narizes? Tudo é cinismo!?
Aliás, venham todos: o preconceito, a falsidade  e o cinismo estão na mesa!!!
Bom Apetite...

*Editor e poeta, membro da Academia Machadense de Letras.

Foto: http://slayagain.blogspot.com.br/2010/09/tira-tua-mascara.html

PROFUSÕES (Olga Caixeta)



PROFUSÕES
(Olga Caixeta)

Todas as fraquezas e todas as misérias humanas vieram à tona e cobriram a tela da TV por um longo tempo e todos nós pudemos assistir, comparar, assumir em nossas vidas muitas passagens que, certamente, fizeram parte do cotidiano imprevisível que assombra os nossos melhores momentos.
Notamos durante muito tempo o quanto nos parecem longos os passos incertos que tiram nossos pés do chão, derrubam o nosso espírito e consomem nossos corações.
É até engraçado pensarmos que somos todos personagens de infinitas passagens, sem nos darmos conta do que estamos vivendo e, infinitas são também as vezes que fazemos comentários sobre o que assistimos sem percebermos a cumplicidade entre as situações.
Tudo é tão igual e algumas vezes o que é real supera o que se apresenta na tela.
Estou aqui falando da novela das nove “Amor à Vida” e dos seus últimos capítulos.
Depois de centenas de atropelos, traições, mortes, roubos, brigas, separações aconteceu o inesperado: o amor representando a única possibilidade de o ser humano ser feliz, sentir-se bem consigo mesmo e justificar a sua relação com os outros.
O que corre na net é o beijo dos homossexuais e pude ler comentários dizendo que “ até que enfim a televisão mostrou estar quebrando tabus e etc...”
Não quero me ater ao fato, mas àquilo que foi o fechamento: a cumplicidade entre pai e filho e o desvendamento do sentimento escondido e maltratado no coração dos personagens, César e Félix.
Se prestarmos atenção, no decorrer dos capítulos havia uma luta interior no personagem Félix, o filho, pelo fato de não ser reconhecido, não ser amado.

Tal fato fez dele uma criatura sórdida, má, inconsequente e, só depois de ter passado por situações mais difíceis também para ele, a questão econômica, e encontrado uma mão estendida, não para oferecer dinheiro, mas carinho, atenção, amor e que exigiu dele uma determinação de atitude refletida, foi capaz de mudar.
Mudou e mudou tanto que foi capaz de reconhecer suas fraquezas e entregar-se de vez à mostra de seus sentimentos.
O fato pode parecer bobo para muitos, mas para mim foi surpreendente. Exalou um certo ar de sublimidade que intimidou todas as outras passagens de desafetos e asperezas.
Li uma mensagem do Papa Francisco para o XXII Dia Mundial do Enfermo 2014 na qual ele diz: “ Quando nos aproximamos com ternura daqueles que precisam de cura, levamos a esperança e o sorriso de Deus às contradições do mundo”.
Ele fala aqui da enfermidade do corpo e eu falei antes da enfermidade da alma. Todos nós sabemos que nenhuma das duas situações é melhor ou pior, mas é certo que tanto uma quanto a outra são dizimadoras do ser humano.
O final da novela foi providencial para falar de um assunto sobre que muita gente foge: coisas do coração que descontrolam sobremaneira nossos pensamentos e nossa força de ação.
De forma geral, quando o assunto é o próprio EU intimidamo-nos, pois o maior costume de todos nós é expor o Outro e escondermo-nos atrás de nós mesmos.
Achamos todas as lições de amor bonitas, mas não expomos a nossa ou nem nos damos conta de que poderíamos viver uma. A sensibilização acontece-nos e passa como um vento lá fora.
Sofremos por causas infinitas e guardamos a sete chaves toda a ira que corrói a nossa vida, pois acostumamo-nos ao espírito de vingança que nos traz a sensação de donos do poder.
Apesar de todos os escrachos que “Amor à Vida” deixou rolar por um bom tempo, o seu final garantiu-nos um tanto de emoção, algumas lágrimas e muitos comentários. Não importa que tenha sido sobre o beijo homossexual, já que ele é amor.
Se amar é em si mesmo um estado de leveza espiritual só ele, o amor, será capaz de lavar todas as manchas que encobrem o favorecimento de uma boa ação.
Falar de amor no facebook não é a mesma coisa que segurar as mãos de alguém, não é a mesma coisa que desvendar no nosso coração a força da vida.
Vivemos uma época difícil, sem muitas explicações ou respostas, uma época de relatividade sem mesmo entendermos bem seu significado, mas suponho que qualquer ser humano responderia para si mesmo sobre seus sentimentos.
O que eu realmente sinto quando sinto algo infinitamente forte brotar em mim e eu sei que posso responder com certeza: É Amor?
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*Olga Caixeta é professora de Português, poeta e membro da Academia Machadense de Letras


Foto fonte: http://veja.abril.com.br/blog/quanto-drama/tag/felix/page/3/