SIGA O MEU BLOG

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

ENCONTRO COM CLARICE



ENCONTRO COM CLARICE
J. Vítor da Silva *

Na vida, temos oportunidades raras; algumas, só acontecem uma vez. Foi o que ocorreu comigo, quando fui participar do 1º Encontro Nacional de Professores de Literatura Brasileira, na PUC do Rio de Janeiro, em janeiro de 1975.
Encontrei Clarice Lispector quando estava no auge de minhas atividades como professor de Literatura Brasileira da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Machado.
Até hoje, me culpo por não ter chegado mais perto dela para ter bebido daquela fonte tão preciosa e rara da sua intelectualidade. Sabia menos que dois anos depois, Clarice deixaria este mundo. “Tem gente que cose para fora. 
Eu coso para dentro”, escreveu ela em seu livro A Hora da Estrela. Clarice é a autora do enigmático, do introspectivo, do interdito. “Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo entendimento”, filosofa no correr do livro.
Sentei à frente de Clarice apenas duas fileiras de cadeiras, muito próximo dela, tão perto que percebi quando ela deu um cochilo durante uma das palestras. As palestras muitas vezes são cansativas, enfadonhas. Acredito que durante o cochilo, Clarice cosia para dentro, como ela sempre foi – introspectiva, voltada para o seu próprio universo. Porque cada qual tem seu universo próprio.   
Vi Clarice com seus olhos amendoados, interrogativos, observa- dores. “...cada dia é um dia roubado da morte”, mas a morte roubou-lhe os dias.
Definitivamente. Agora, vejo Clarice nas palavras e nas páginas de seus livros.    

*Professor, jornalista e Vice-Presidente da Academia Machadense de Letras.