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domingo, 21 de fevereiro de 2010

QUANDO O SAMBA ACABOU (Thaís Matarazzo



Não podemos deixar nossa história musical escoar pelos ralos e bueiros, vamos relembrar artistas pioneiros da Era do Rádio e, mais que isso, que fazem parte da nossa verdadeira MPB.

Um dos primeiros artistas negros a se destacar no Rádio paulista foi o cantor e sambista Vassourinha, nascido em 1923, em São Paulo, no tradicional bairro da Barra Funda.

Segundo historiadores, foi neste bairro que nasceu o samba paulistano, ou como denominaria Mário de Andrade - o “samba rural paulista”, porque ali na Barra Funda existiu o Largo da Banana (onde atualmente se encontra o Memorial da América Latina), onde muitos negros que moravam nos arredores iam fazer suas rodas de samba, essa música era uma mistura de gêneros afros herdados do interior e outros ritmos urbanos.

Nas imediações do Largo, em 1914, Dionísio Barbosa fundou o primeiro cordão paulistano, o Grupo Carnavalesco Barra Funda.

Talvez, Vassourinha tenha sido influenciado por esse cenário musical. Sempre residiu com sua mãe, Dona Tereza, na Barra Funda, ali ela trabalhou em algumas pensões como empregada doméstica.

Vassourinha fez sua meteórica carreira na Rádio Record de São Paulo, com seus estúdios da Praça da República, centro da cidade. Ingressou ali em 1934, com apenas doze anos. Foi muito querido por seus colegas e ouvintes. Costumava cantar em dupla com outros cantores da época, inclusive com Carmen Miranda, que o admirava muito...

Seu verdadeiro nome era Mário de Almeida Ramos, há duas explicações para seu apelido: alguns afirmam que quando ele entrou na Record realizava o serviço de limpeza da emissora, mas, em uma entrevista de 1937, o próprio Vassourinha afirmou que foi admitido como contínuo e menino de recados, e que a partir de 1935, acumulou o serviço de cantor e passou a ganhar mais.

Já Raul Duarte, que foi diretor artístico da Record, assevera que no Largo do Paissandu, em frente ao Ponto Chic, tinha um chofer de táxi, conhecido como Vassoura, um “anjo da guarda dos boêmios” daquele tempo, tinha uma risada gritante e era fisicamente parecido com o menino Mário; daí começaram a comentar que o menino era filho do Vassoura, portanto era o Vassourinha. E a brincadeira pegou, mas, na verdade, eles não eram parentes.

O cantor deixou como legado apenas doze músicas gravadas em seis discos de 78 rotações, que nos dão conta de toda a expressividade de Vassourinha. Sua gravação mais conhecida é Emília, de Haroldo Lobo e Wilson Batista. Faleceu em setembro de 1942, aos 19 anos.

Ainda tivemos muitos outros artistas negros que contribuíram fortemente para a consolidação do samba na Paulicéia, seja através do Rádio ou do Carnaval, como por exemplo, Dionísio Barbosa, Geraldo Filme, Black-out, Henricão e Risadinha. E então, como alguém ainda pode afirmar que São Paulo é o túmulo do samba?

*Thaís Matarazzo é historiadora da nossa Música Popular Brasileira.

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